agosto 26, 2004

The Lurker e a indignação (ou tem dias que de noite é.... )

Einstein já dizia que apenas duas coisas são infinitas: o Universo e a estupidez humana. E que não tinha muita certeza quanto ao Universo. Concordo quanto à segunda parte da premissa: a de que a estupidez não tem fim. Hoje tive (mais) uma prova disso, travestida de ignorância, arrogância, prepotência e indiferença. E isto vindo de quem você esperaria que estivesse dois palmos abaixo de Mahatma Gandhi, considerando-se os objetivos a que a organização que comanda se propõe.

E assim, em nome da idiotice abissal que se demonstra como sobrenadante de tempos em tempos, oriunda de onde se esperaria muito mais; e ainda de uma pessoa que cobra postura diferente de quem está em baixo daquela que está disposto a oferecer, a WKTL Radio apresenta a música tema do dia.

PERFEIÇÃO
Legião Urbana
Legião Urbana

Vamos celebrar a estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja de assassinos
Covardes, estupradores e ladrões
Vamos celebrar a estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar o nosso governo
E nosso estado que não é nação
Celebrar a juventude sem escolas
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião
Vamos celebrar Erros titânicos
Percepções erradas
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade
Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
E os mortos por falta de hospitais
Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
E o voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
Todos os impostos, queimadas, mentiras e sequestros
Nosso castelo de cartas marcadas
O trabalho escravo e nosso pequeno universo
Toda a hipocrisia e toda a afetação
Todo o roubo e toda a indiferença
Vamos celebrar epidemias
É a festa da torcida campeã
Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar um coração
Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado de absurdos gloriosos
Tudo o que é gratuito e feio
Tudo o que é normal
Vamos cantar juntos o hino nacional

(A lágrima é verdadeira)

Vamos celebrar nossa saudade
E comemorar a nossa solidão
Vamos festejar a inveja
A intolerância e a incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente a vida inteira
E agora não tem mais direito a nada
Vamos celebrar a aberração
De toda nossa falta de bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror de tudo isso
Com festa, velório e caixão
Está tudo morto e enterrado agora
JÁ aqui também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou essa canção

Venha, meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão

Venha, o amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça
Venha, que o que vem é perfeição

The Lurker Says: "The tragedy of life is what dies inside a man while he lives."
Albert Einstein

agosto 24, 2004

The Lurker e a Lutécia ou
(Aos vivos devemos respeito, aos mortos apenas a verdade - Voltaire).

Os amantes da cidade luz tem um motivo de alegria, hoje e amanhã, quando se comemora o 60º aniversário da libertação de Paris.

Em 18 de agosto de 1944 a resistência, dominada pelo partido comunista, clama pela insurreição geral. Após uma semana de combates, com 1750 mortos, o General Diétrich von Choltitz se rende, ignorando telegrama do Fhürer para que "não permitisse que a cidade fosse tomada pelo inimigo" deixando tão somente "um campo em ruínas". A ordem nunca foi dada, não obstante as pontes e diversos edifícios terem sido minados pelas tropas alemãs. Como se vê, a cidade é capaz de vencer até mesmo os nazistas pelo seu simples existir.

Contrariamente ao que gostam de vituperar os americanos quando querem insultar os franceses, não foram eles, mas sim os espanhóis os primeiros na capital francesa, vencendo as barricadas alemães e chagando à prefeitura (Hôtel de Ville) na noite do dia 24. Esta chegada possui grande simbolismo pois resgata a honra do exército francês e dos heróis da França livre, pois a 2ª Divisão Blindada é comandada pelo General Leclerc.

Sessenta anos depois foi decerrada uma placa comemorativa, alusiva a data, pelo prefeito da cidade Bertrand Delanoë, em presença de oficiais espanhóis. Diz a placa : "Aux républicains espagnols, composante principale de la colonne Dronne." A homenagem, instalada no boulevard Henri-IV, gera uma certa contradição por si só. Explica-se : Henrique IV de Bourbon cunhou no ano de 1593, em Lisieux, a frase "Paris vale bem uma missa" (Paris vaut bien une messe). Conquanto tenha razão o monarca, sua motivação talvez não fosse das mais legítimas. Devota a interesses políticos, deixava claros seus motivos para converter-se do protestantismo ao catolicismo - a coroa, não o povo.

Grande parte dos heróis deste episódio dormem esquecidos nas areias do tempo, em especial os civis e partisans que fustigaram os contingentes alemães dentro da cidade, realizando barricadas até tomar conhecimento da retomada da cidade. Sobre isto, vale conhecer o sítio elaborado pela Mairie de Paris, que apresenta diversas fotos históricas da ocasião.

A libertação de Paris é uma história paradoxal, pois é produto de uma conjunção de desejos muito diferentes. Enquanto os comunistas lutavam por uma insurreição e os chefes da Resistência estavam divididos demais para se unirem sob o fogo, é de Gaulle que colhe os louros. E é um exército que apóia uma revolta. E os Parisienses? Sabe-se demasiado pouco sobre eles mas a liberdade foi comprada, mais que nunca, ao preço do seu sangue. Ou como diria de Gaulle: "La France rentre à Paris, chez elle! Elle y rentre sanglante, mais bien résolue."

The Lurker Says : Ici, nous, vois-tu, nous on marche et nous on tue, nous on crève... (Chant des partisans - Yves Montand)